sexta-feira, 3 de junho de 2011


 “Aprendi a fazer com que minha música fale diretamente ao público, para
encontrar a maneira mais direta e imediata de dizer o que quero dizer,
 e de dizê-lo da forma mais simples possível.  É por isso que acredito
 que, ao menos no teatro, a melodia é um elemento tão importante,
pois fala diretamente ao coração – e de que vale a música
 se não consegue tocar as pessoas?”



WEILL E EU: ARDENTE MELODIA

Descrição

Um personagem fictício, cantora e amante, narra a história de como acompanhou Kurt Weill e participou de suas produções, desde o início de sua parceria com Berthold Brecht, pelos poucos anos que ficou na França, até sua morte nos Estados Unidos (após ter conquistado sucesso na Broadway). A narrativa inclui peculiaridades do relacionamento/casamento aberto que Weill tinha com sua esposa Lotte Lenya. 

Essa história é o PRE-TEXTO para esse ESPETÁCULO MUSICAL que apresenta uma combinação de canções de diferentes períodos da produção de Kurt Weill, e possibilita uma visão geral de sua obra, sem a pretensão de ser uma antologia. 

A cantora e atriz Naomy Schölling leva a platéia a uma viagem pelo universo de Weill, que passa da crueza do cabaret alemão pré-guerra, à sensualidade mais leve e alegre das músicas que Weill compos para a Broadway. Naomy é acompanhada por três músicos, sob a direção musical do acordeonista/pianista Gabriel Levy. O espetáculo é dirigido por Luiz Valcazaras. 

As músicas recebem uma nova versão em português, o que permite ao público se deleitar não apenas com as maravilhosas melodias de Weill, mas também com a contundência e genialidade de suas letras e as de seus parceiros.

Justificativa

Kurt Weill marcou época, tendo encantado uma magnitude de compositores, como, por exemplo, Chico Buarque, que baseou sua Ópera do Malandro na Ópera dos Três Vinténs de Weill – que por sua vez inspirou-se na Ópera dos Mendigos do inglês John Gay. A obra de Weill é inesgotável fonte de fascínio. Dentre as cantoras que se dedicaram à sua obra, temos a cantora lírica canadense Tereza Stratas, a alemã Ute Lemper, que se consagrou como intérprete da música de Weill, e as brasileiras Cida Moreira e Susana Salles. A grande intérprete da obra de Weill, no entanto, foi sua esposa, Lotte Lenya. Weill revolucionou a ópera, incorporando a ela cançonetas populares, tangos e jazz, intercalados com a linguagem pornográfica dos cabarés. Em primeiro lugar, o ator deveria mostrar o personagem e não deveria apenas representá-lo com uma preocupação com o virtuosismo vocal. Engajamento e entretenimento são palavras que apenas delineiam o retrato desse compositor genial, que merece ter sua obra relembrada e perpetuada. A direção musical do espetáculo musical caberá ao reconhecido músico brasileiro, Gabriel Levy, que integrou orquestras que acompanharam artistas internacionais em tour pelo Brasil como Os Tres Tenores, e a própria Ute Lemper – a renomada intérprete da obra de Kurt Weill. A importância deste projeto para a sociedade é permitir que o povo tenha a oportunidade de conhecer parte da obra desse homem sensível que sempre esteve totalmente ligado à sociedade que o cercou. Weill criou um vasto e original universo musical que nos revela muito sobre a agitação social, política e cultural que impregnava a atmosfera da Berlim na época da República de Weimar. Tendo sido forçado a fugir da Alemanha com a crescente perseguição dos nazistas, Weill e sua esposa Lenya vão para os Estados Unidos, após breve período na França. Sua linguagem mais radical de fusão de ópera e espetáculo-café-concerto soava elaborada demais para o público dos musicais americanos. Weill logo se adapta ao estilo americano mais simplificado e recebe reconhecimento na Broadway. Sua morte súbita, aos 50 anos, em 1950, deixa sua nova fase americana irremediavelmente inacabada. Durante toda sua vida, além da música especificamente para o teatro, Weill compos profusamente na linguagem erudita. Seu compositor preferido era Mozart. Aos 20 anos foi aceito na Academia de Arte de Berlim como um dos 6 alunos do curso de composição do lendário Ferruccio Busoni. Em 1922, aos 22 anos, a Filarmônica de Berlim já havia realizado a estréia de duas de suas composições. Tudo isso mostra a versatilidade desse grande gênio da música do século XX. Duas afirmações de Weill mostram que o genial compositor também era um ser humano de extrema sensibilidade: 1) Ao lhe perguntarem qual seria o 'verdadeiro Weill', ante a diversidade de seu estilo de composição, Weill respondeu: "Olhando para trás, para minhas composições, considero que reajo de modo muito forte ao sofrimento dos desprotegidos, dos oprimidos e perseguidos. Boa ou ruim, minha música é puro Weill quando enfoca o sofrimento humano." 2) Weill também afirmou: "Aprendi a fazer com que minha música fale diretamente ao público, para encontrar a maneira mais direta e imediata de dizer o que quero dizer, e de dizê-lo da forma mais simples possível. É por isso que acredito que, ao menos no teatro, a melodia é um elemento tão importante, pois fala diretamente ao coração - e de que vale a música se não consegue tocar as pessoas?" Esse grande homem e compositor merece ser celebrado!!

Sinopse

Num ambiente de clube decadente de jazz (nos Estados Unidos), uma cantora narra a história de como acompanhou Kurt Weill, desde a primeira vez que o viu, numa audição para uma produção de Kurt Weill na Alemanha, até a morte súbita do compositor nos Estados Unidos. Essa cantora teria sido uma amante de Weill (ele teve algumas amantes em oposição aos vários amantes de sua esposa). A cantora é acompanhada por 3 músicos, ao vivo. O show começa com uma das mais famosas canções de Weill, Surabaya-Johnny, e a seguir, entermeadas pela história, ouvimos grandes clássicos como: Canção de Bilbao, Je ne t'aime pas, Youkali, One Life to Live, Foolish Heart e Speak Low, dentre outras. A cantora atriz fictícia dessa história, que é um pretexto para a apresentação das músicas, nos dá uma idéia da vida de Weill, do seu peculiar relacionamento com sua esposa Lotte Lenya, ora narrando, ora colocando-se como amante do compositor.

Programa

Surabaya-Johnny
Bill’s Ballhaus em Bilbao
Denn wie man sich bettet...

A Carta de Despedida
Je ne t’aime pas
Youkali

One Life to Live
Foolish Heart
Speak Low
I am a Stranger Here Myself
It never was you
 Lotte Lenya e Kurt Weill


Por que Weill?



O eterno fascínio de Kurt Weill

A obra de Kurt Weill tem sido fonte de inesgotável fascínio.  Talvez precisamente devido à dualidade de sua carreira.  Ao longo dos anos uma série de artistas de renome tem mantido acesa a chama de sua obra.  A canadense Tereza Stratas foi considerada pela própria esposa de Weill a sua mais perfeita intérprete.  Mais recentemente a alemã Ute Lemper estabeleceu-se internacionalmente como grande intérprete de sua obra, tendo realizado três shows no Teatro Cultura Artística em ??/2001.  Também no Brasil diversas cantoras o incluíram  em seus repertórios, dentre elas Cida Moreira, Susana Salles, etc.

Lugar reservado entre os compositores mais originais do século XX 

Weill revolucionou a ópera, incorporando a ela cançonetas populares, tangos e jazz, intercalados com a linguagem pornográfica dos cabarés.  O resultado é uma profusão de timbres ricos, que soam distanciados, porque em tom de paródia e que representam uma revolução na forma operística. 

Classificar sua obra dentro da dicotomia simplificadora “Weill - artista politicamente engajado”, em seu período alemão, contraposto ao “Weill – artista burguês alienado”, de sua fase americana, é por demais simplista.

Em seu período alemão, mostrou seriedade e determinação.  Sua música absolutamente singular tem um ar de deboche permeado de tons sinistros que acentuam sua dramaticidade e a fazem eficiente e funcional no palco, além de conter implicações políticas e sociais. 

Compositor versátil, ao optar por viver nos Estados Unidos, depois da breve e amarga experiência do exílio na França, Weill decidiu também se adaptar ao modo americano de fazer música.

Como se considerava essencialmente “um compositor para teatro”, não viu problema algum em escrever canções para a Broadway e Hollywood dentro do estilo que caracterizava as produções da época.  Da mesma forma que Mozart, seu compositor favorito, Kurt Weill sempre revelou principalmente uma grande versatilidade e um enorme amor pelo teatro, erudito ou popular, como forma de popularizar ainda mais sua música.

Comprometimento e entretenimento são palavras que começam a desenhar o retrato desse compositor genial, capaz não só de se expressar nas línguas dos países onde foi obrigado a viver, mas de criar música de gênio como se fosse nativo de cada uma dessas nações.


Um Compositor de Teatro do Século XX

Kurt Weill nasceu no dia 2 de março de 1900 em Dessau, Alemanha.  Filho de um cantor de sinagoga, demonstrou talento musical desde cedo.  Aos 12 anos de idade, já compunha e montava concertos no hall sobre a casa de sua família. 

Durante a Primeira Guerra Mundial, estudou teoria e composição com Albert Bing, e em 1918 foi aceito na Escola Superior de Música de Berlim.  Enquanto aprendia as complexidades da grande arte musical com mestres como Engelbert Humperdinck, Weill sustentava-se com várias ocupações musicais, tocando órgão numa sinagoga e piano numa cervejaria, o que lhe valeu como introdução ao mundo da música popular e ao lado um pouco mais esculhambado da vida alemã, dando aulas de teoria musical e contribuindo como crítico musical para Der Deutsche Rundfunk, um programa semanal na rádio alemã.  Entre 1919 e 1920 ele já estava na Ópera de Dessau trabalhando como ensaiador para o grande maestro Kans Knappertsbusch.  Logo depois, foi escolhido regente do recém formado teatro municipal em Lüdenscheid. 

Sua formação musical atingiria o auge a partir do fim de 1920, quando foi aceito na Academia de Arte de Berlim como um dos seis alunos do disputado curso de composição do lendário Ferruccio Busoni.  Em 1922, a Filarmônica de Berlim já havia realizado a estréia de duas de suas composições.  Em 1923, deixou a Academia de Arte e alçou vôo próprio, iniciando a composição de seu Concerto Para Violino no ano seguinte. 

Após uma série de apresentações em Berlin e em festivais internacionais de música, Weill já havia se estabelecido como um dos melhores compositores de sua geração, juntamente com Paul Hindemith e Ernst Krenek. 

Já aos 19 anos, decidira que o teatro musical era seu caminho.  Em abril de 1925, completou sua primeira obra inteiramente voltada para o palco:  Der Protagonist (com texto de Georg Kaiser), que, em 1926, marcou com sucesso sua estréia teatral em Dresden.  Weill considerou Der Neue Orpheus (1925), uma cantata para sopranos, violino e orquestra para um poema de Iwan Goll, como uma virada em sua carreira.  Ela prefigurava a multiplicidade estilística e a ambigüidade provocativa típica de seu estilo de composição.  Nesse estágio em sua carreira, o uso de Weill de elementos da dança associados com a música dançante americana e sua busca por colaborações com os maiores escritores da época foram estratégias essenciais na sua tentativa de reformar o palco musical.

Ainda em 1926 Weill casou-se com a cantora Lotte Lenya (1898 – 1981), que seria uma das grandes influenciadoras de seu trabalho.

Brecht entra em cena 

Em 1927, outro grande parceiro entrou em cena: o dramaturgo e poeta Berthold Brecht.  Por sua influência, Weill passou a escrever ópera usando técnicas de música popular. 

Na década de 1920, a capital cultural da Europa não era mais Paris e sim Berlim.  Nas pequenas casas de espetáculos as canções de fortes insinuações sexuais predominavam – quase que invariavelmente com acompanhamento de piano e metais – a “música de cabaré”.  Weill lançou mão do tom satírico e debochado do cabaré, de grande tradição na Alemanha, para criar uma obra crítica de seu tempo, estética e socialmente.  Assumiu o novo estilo e o sofisticou ao máximo.  E, em 1927, fascinado por uma coleção de versos recém-publicados de Brecht, concretizou sua primeira parceria com o escritor com Mahagonny.  Se antes Weill era tido como um músico promissor, com Mahagonny surge o sucesso público.  A malícia popular tornou-se motivo de euforia e escândalo.

Por um lado, compunha sinfonias e concertos para exercitar seu know-how composicional e manter vínculos com a música de concerto, por outro, desenvolvia uma obra voltada para o teatro-musicado, sua paixão.  Isso provocava ira generalizada, em conseqüência do exacerbado tom crítico dos textos que usava – na maioria das vezes de Berthold Brecht.  Nos textos que musicava, presenciava-se toda a angústia do momento histórico alemão, em que as graves crises econômicas e sociais conviviam com a mais criativa fase da vida cultural daquela nação.

Kurt Weill é uma espécie de representante máximo de um estilo que, na verdade, teve uma passagem ligeira em sua vida.   A colaboração com Berthold Brecht, apesar de ter sido fundamental para ambos, durou apenas seis anos, sete espetáculos e apenas duas canções isoladas (Nannas Lied e Und was bekam des Soldat Weib?).  Obras como A Ópera dos Três Vinténs, Happy End e Ascensão e Queda da Cidade de Mahagonny, dentre outras, mudaram radicalmente a maneira de compor para teatro na Alemanha.  A dupla Brecht-Weill dominou os palcos alemães entre 1927 e 1932, refletindo o clima de decadência, tristeza visceral e nostalgia desesperada, da Berlim pré-fascista.  A separação acontece em conseqüência de um certo exagero ideológico de Brecht, que condiciona a criação musical – ou dramática – aos ideais socialistas.

Mas, com a chegada do Terceiro Reich, a ferina arte de Weill tornava-se motivo de inquietação e incômodo para os detentores do poder.  Com o triunfo dos nazistas nas eleições do começo de março de 1933 e o início das punições a músicos, Weill decide abandonar a Alemanha.  Apesar de seu casamento com Lotte Lennya ter chegado ao fim, no dia 21 daquele mês partiram juntos de carro para Paris. Weill continuou compondo e dirigindo encenações de suas peças na capital francesa e em Londres. 


A fase americana

Em fins de 1935, o casal foi para os Estados Unidos a fim de ensaiar O Caminho da Promessa.  Sucessivos adiamentos da produção obrigaram o compositor a dar palestras e a escrever para o teatro a fim de ganhar a vida.  Em novembro de 1936, estreava em Nova York a primeira produção americana de Kurt Weill, Johnny Johnson.  A partir daí, inicia-se seu período americano. 

Em 1937, solicitou a naturalização como cidadão dos Estados Unidos, e, no ano seguinte, impôs-se como um dos grandes nomes da Broadway com Knickebocker HolidayEssa peça tornou conhecidas as primeiras obras-primas americanas de Weill: It Never Was You, September Song, There’s Nowhere to Go but Up, Will You Remember Me?

Consolidação do trabalho nos Estados Unidos

Outros trabalhos nas áreas erudita e popular se seguiram até 1941, ano de Lady in the Dark e mais obras-primas:  The Saga of Jenny, My Ship, One Life to Live.  Dois anos depois era a vez de One Touch of Venus, veículo de mais canções inesquecíveis:  Speak Low, Foolish Heart, Westwind.  Em 1945, outro trabalho para o palco em parceria com Ira Gershwin: The Firebrand of Florence.  A produção para a Broadway continuou em 1947 com Street Scene.

1948 foi o ano de Love Life.  Em 1949, o último grande triunfo:  Lost in the Stars.  Em dezembro de 1949, Weill começou a trabalhar em Huckleberry Finn.  Sofrendo de graves crises de psoríase e, depois, de trombose coronária, Weill foi hospitalizado em 19 de março e morreu em 3 de abril de 1950, um mês após ter completado 50 anos.

As três fases do “fenômeno Weill”

Há, no mínimo, três fases distintas na produção de Kurt Weill.  A primeira delas é a do compositor que, em certa medida, manteve-se fiel à tradição de inovação da música de concerto européia.  A segunda, a da época da sua colaboração com Brecht, é aquela em que passou a trabalhar com elementos retirados do jazz, da ópera italiana, do neo-classicismo e até mesmo do cabaré, retrabalhando-os sob um prisma irônico.  (Esta fase, a mais condimentada de todas, vem garantindo a sobrevivência do nome do compositor.)  A terceira, a dos musicais da Broadway, talvez seja a menos peculiar do autor, na medida em que este viu-se obrigado a escrever dentro de um gênero para o qual o sucesso sempre funcionou como uma lei acima de qualquer outra pretensão.  Nesse entremeio, há um curto período francês.

Primeira Fase

A quase totalidade da sua obra escrita antes de 1921 foi perdida.

Nos primeiros anos da década de 1920, quando enfrentava a música instrumental ou vocal-instrumental, Kurt Weill já tinha chegado à sua “primeira maneira”.  Seu discurso de base era o do pós-romantismo ao qual eram incorporados elementos “vulgares” e outros já decididamente paródicos, o que faz com que sua música soe como “distanciada”.

Seu desejo de dessacralização da arte alemã era tão grande – fosse ela a “reacionária” de Pfitzner, ou a “revolucionária” de Schoenberg – que o passo seguinte só poderia ser mesmo o de “rebaixar” a música à linguagem do jazz e do cabaré.  Durante a década de 1920 foi paulatinamente mudando de orientação estética, passando a escrever obras dentro do espírito do “novo classicismo” apregoado por Busoni, buscando “objetividade” de construção.

Segunda Fase

Em meio a década de 1920, vivendo cotidianamente os efeitos da crise que se alastrara por toda a Alemanha, Kurt Weill viu-se compelido a compor música politicamente engajada.  E foi então, a partir dessa época, que Kurt Weill acabou por tomar o partido da música dramática – daquela que usa do texto e do espaço cênico a fim de denotar significações mais diretas.  Para tanto, simplificou enormemente o seu estilo.  E, na medida em que se deu conta de que, para ser compreendida pelo maior número possível de pessoas, a música precisaria vir acompanhada de textos portadores de mensagens bem diretas, passou a escrever principalmente dentro do gênero “canção”.  A ópera O Protagonista (1924-5), sobre o texto de Kaiser, a ópera-balé Royal Palace (1927), de Goll, o espetáculo Conjuntura (1927), de Lannia, Gasbarra e Piscator, já denotam o novo estilo do compositor que desejava questionar a ópera dentro do próprio espaço do teatro de ópera.  E foi nessa mesma época que Weill entrou em contato com aquele que se iria revelar seu mais perfeito (e problemático) parceiro:  Berthold Brecht.

Kurt Weill escreveu sobre textos de Brecht o songspiel Mahagonny (1927), a “peça musicada” A Ópera dos Três Vinténs (1928), a ópera Ascensão e Queda da Cidade de Mahagonny (1927-1929), a cantata O Vôo de Lindberg (1929) e a ópera-balé Os Sete Pecados Capitais (1933), entre outros.
 
       Lotte Lenya como Jenny em Ópera dos Três Vinténs

Com seu novo gênero de ópera, Weill pretendia atingir não especialmente os aficionados do gênero, que então viviam no “esplêndido isolamento” de um repertório voltado para o passado.  E sim um outro público – a juventude, os operários e os freqüentadores de cafés-concertos e das operetas – para o qual uma nova forma operística finalmente faria sentido.

Mas a cada obra cênica, uma mesma questão voltava à tona: como a música e como o canto sobretudo são possíveis no teatro?  Weill resolveu essa questão da maneira mais primitiva.  Tinha uma ação realista e devia, então, opor-lhe a música, já que recusava toda a possibilidade de efeito realista.  Eis porque ora a ação era interrompida para fazer música, ora era conduzida ao ponto onde era preciso simplesmente cantar.

Em março de 1933, quando abandonou Berlim às pressas, com sua mulher Lotte Lenya, já na mira da Gestapo e levando consigo apenas algumas anotações musicais, Kurt Weill também começava a abandonar o seu próprio passado musical.  Na curta estadia francesa, ainda conseguiu concluir a sua Segunda Sinfonia – seu último grande trabalho puramente instrumental.


Terceira Fase

Fugindo do nazismo, Weill trabalhou durante algum tempo na França, antes de se refugiar definitivamente nos Estados Unidos onde, aliás, era praticamente um desconhecido.  Simplificando ainda mais a sua linguagem, escreveu alguns musicais para a Broadway: Knickerbocker Holiday (1938), Lady in the Dark (1941), One Touch of Venus (1943) e Lost in the Stars (1949) – tendo entre seus letristas Ogden Nasch, Ira Gershwin e Maxwell Anderson.

A nova linguagem articulada por Weill no seu período berlinense, ponto de confluência de várias tradições germânicas e mesmo italianas, ponto de fusão da opereta e do espetáculo de café-concerto, não fazia muito sentido na França.  E muito menos nos Estados Unidos, para onde Weill se deslocou definitivamente em 1935.  Foram feitas algumas experiências na Broadway com o seu estilo mais radical (The Eternal Road – O Caminho da Promessa, em colaboração com Reinhardt e Werfel), mas elas soaram elaboradas demais para o público dos musicais.  Conservando certos elementos da sua dicção européia, mas já tentando se aproximar do American musical, Weill passou a ser mais respeitado na Broadway com Knickerbocker Holiday, Lady in the Dark, One Touch of Venus, Street Scene e Lost in the Stars.  Contudo, sua morte súbita, em 1950, deixaria a sua fase norte-americana irremediavelmente inacabada.


Qual será o verdadeiro Weill? 

Um ano antes de morrer, o compositor respondeu assim a essa pergunta: “Olhando para trás, para minhas composições, considero que reajo de modo muito forte ao sofrimento dos desprotegidos, dos oprimidos e perseguidos.  Boa ou ruim, minha música é puro Weill quando enfoca o sofrimento humano”.

Simplicidade -  Weill também afirmou: “Aprendi a fazer com que minha música fale diretamente ao público, para encontrar a maneira mais direta e imediata de dizer o que quero dizer, e de dizê-lo da forma mais simples possível.  É por isso que acredito que, ao menos no teatro, a melodia é um elemento tão importante, pois fala diretamente ao coração – e de que vale a música se não consegue tocar as pessoas?”

Comprometimento e entretenimento:  estas duas palavras começam a desenhar o retrato desse homem capaz não só de se expressar nas línguas dos países onde foi obrigado a viver, mas de criar música de gênio como se fosse nativo de cada uma dessas nações.

Com sua fragmentação das estruturas narrativas, seus gêneros híbridos, seu difícil e às vezes enigmático sentido da voz, o teatro musical de Weill é, ainda hoje, um dos mais significativos produtos do século 20.



quarta-feira, 1 de junho de 2011

WEILL E EU: ARDENTE MELODIA

CV - NAOMY SCHÖLLING - Intérprete


Natural de São Paulo, após ter iniciado seus estudos de canto com o soprano Adélia Issa, passou a estudar com o baixo Eduardo Janho-Abumrad, tendo realizado recitais na cidade de São Paulo e pelo interior do estado, com repertório variado.  De 2004 a 2008, cursou Canto Erudito, no Centro de Estudos Musicais Tom Jobim (U.L.M.), sob a orientação de Francisco Campos e Regina Elena Mesquita.   Recebeu aclamação pública e reconhecimento da crítica em sua estréia na ópera Così Fan Tutte, de Mozart, no Theatro São Pedro, Jun-Jul/05, dir. cênica de Mauro Wrona, dir. musical João Maurício Galindo (personagem Despina).  Em fev/mar de 2006, novamente obteve imensa aclamação pública com sua estréia no Theatro Municipal de São Paulo na série Matinées do Municipal como Bastiana na ópera Bastien und Bastienne de Mozart, dir. cênica de Regina Elena Mesquita e regência de Daniel Miziuck.  Em junho de 2006, foi Polly Peachum na montagem de A Ópera dos 3 Vinténs, de Kurt Weill e Berthold Brecht, no Theatro São Pedro, sob regência e dir. cênica de Paulo Maron.  Em dezembro de 2006, foi a professora Miss Wordsworth na montagem de Albert Herring, de Benjamin Britten, no Theatro São Pedro, regência de João Maurício Galindo, dir. cênica de Mauro Wrona.  No decorrer de 2006 participou de, bem como produziu, diversas Terças Musicais no saguão do Theatro São Pedro.  Em mar/07, protagonizou a Vesperal Lírica Rita, de Gaetano Donizetti, sendo a primeira montagem desta ópera no Theatro Municipal de São Paulo, dir. cênica de João Malatian, e musical da pianista Profa. Karin Uzun.  Em 2008, criou a Série CORTINAS LYRICAS DO OFICINA, da qual foi curadora e coordenadora geral, tendo participado de alguns recitais dentro da série.  Também adaptou, dirigiu e atuou na Opereta da Gramática, que teve curta temporada no Teatro Oficina e participou do festival de teatro As Satyrianas, em São Paulo.  Em 2009, protagonizou a produção da ópera Rita, de Donizetti, no Theatro São Pedro.  Durante o primeiro semestre de 2011 está coordenando novamente a Série CORTINAS LYRICAS DO OFICINA, com patrocínio da Petrobras.


É professora de Interpretação Teatral para Cantores na EMESP (Escola de Música do Estado de São Paulo, antiga ULM e depois Centro de Estudos Musicais Tom Jobim).

Desde 2005, quando se juntou ao elenco, é Preparadora Vocal do Grupo Oficina. 

Trabalhos de direção: Italia in Concerto, direção de ator, SESI Paulista (2012); A Flauta Mágica, com alunos do ópera-estúdio da EMESP, direção de ator (2010); Manon, de Massenet, highlights, Centro Cultural São Paulo (2009), com Pergy Grassy, Clayber Guimarães e Ademir Costa, direção de ator e de cena; Opereta da Gramática, produção, adaptação, direção de ator e de cena (2008), dentre outros.

Atriz formada pela Escola de Arte Dramática (E.A.D.) – USP, participou de grandes produções teatrais em São Paulo e Rio de Janeiro, tendo recebido elogios da crítica por seu trabalho no musical Ópera do Malandro, de Chico Buarque, dir. Gabriel Villela, no T.B.C., Set/00 a Mar/01 (personagem Teresinha).  Atualmente faz parte do grupo Oficina Uzyna Uzona, tendo participado das 5 peças totalizando 26 horas que compõem o clássico Os Sertões de Euclydes da Cunha, com dramaturgia e direção de José Celso Martinez Correa (temporada em São Paulo encerrou-se em 01/abr/07, com turnê para Rio, Recife, Salvador, Quixeramobim e Canudos no 2° semestre de 07).  Em julho e agosto/08, foi uma das protagonistas da peça Cypriano e Chan-ta-lan, de Luiz Antonio Martinez Correa, no Teatro Oficina, dir. Marcelo Drummond, de volta em cartaz às quintas-feiras do mês de dezembro de 2008, e também, no segundo semestre de 2008, participou da peça Os Bandidos, de Schiller, adaptação e direção de Zé Celso Martinez Correa, no mesmo teatro.  Em fevereiro e março de 2009 participou da remontagem de Bacantes, pelo Grupo Oficina, no SESC Araraquara.  Participou da adaptação de Zé Celso de O Banquete de Platão, no Teatro Oficina, no decorrer de 2009, bem como da montagem de Estrela Brazyleira a Vagar – Cacilda!!, de Zé Celso.  Desde 2005, quando se juntou ao elenco, é uma das Preparadoras Vocais do Grupo Oficina.  Durante 2010, participou da turnê do projeto Dionisíacas em Viagem, com um repertório de 4 peças, por 8 capitais brasileiras.  Durante 2010, participou da turnê do projeto Dionisíacas em Viagem, com um repertório de 4 peças, por 8 capitais brasileiras.  Durante 2011, foi Sappho, na peça Sappho de Lesbos, de Ivam Cabral e Patricia Aguille, no Teatro Satyros 1, e participou do espetáculo Macumba Antropófoga, adaptação de Zé Celso sobre o Manifesto Antropofágico de Oswald de Andrade, no Teatro Oficina.  Em janeiro de 2012, com o Grupo Oficina, apresentou a peça Bacantes no festival Europalia na Bélgica, e, em seguida, apresentaram-se no Theatro São Luiz, em Lisboa, Portugal.  Atualmente, está em cartaz com a Macumba Antropófaga 2012 com o Grupo Oficina.

Outros trabalhos incluem: Romeu e Julieta – A Lenda do Amor Entristecido, adaptação de Wagner Cintra da obra de Shakespeare, como atriz e assistente de direção, tendo introduzido o grupo à linguagem da Commedia dell’Arte; The Célio Cruz Show, de Newton Moreno, dir. Paulo Faria, Teatro Agora (2003); Roberto Zucco, de Bernard-Marie Koltès, dir. Roberto Lage (2002); Wild’Stories, texto e dir. Alexandre Stockler, Teatro Sérgio Cardoso (2002); A Luta Secreta de Maria da Encarnação, de Gianfrancesco Guarnieri, Teatro Sérgio Cardoso (2001); Entre as Cerejeiras, baseado em Tchekov, texto de Jolanda Gentilezza, dir. Luciano Quirolli (personagem: Vária); A Revolução dos Beatos, de Dias Gomes, dir. Marco Antonio Rodrigues (personagem: Beata Mocinha); Álbum de Família, de Nelson Rodrigues, dir. José Rubens Siqueira (personagem: D.Senhorinha); O Auto das Barcas, de Gil Vicente, dir. Cláudio Lucchesi; A Gota d’Água, de Chico Buarque, dir. Regina Galdino e Myriam Muniz.

Outros cursos realizados: Commedia dell’Arte, com Tiche Vianna e Ésio Magalhães; A Técnica do Odin Teatret - com Ian Ferslev (integrante do grupo dinamarquês Odin Teatret); Shakespeare - com o diretor Ron Daniels; e, em Londres: Mímica e Teatro Físico, com Desmond Jones, na “The Desmond Jones School of Mime and Physical Theatre”, Physical Characterisation, com Peter Bailie, ator/mímico inglês, no Actor’s Centre, e Clown, com Philippe Gaulier, na École Philippe Gaulier.

Formada em Tradução & Interpretação, com Licenciatura em Letras (Inglês e Português), pela Faculdade Ibero-Americana (atual UNIBERO).

Site: www.naomyscholling.com.br  (momentaneamente fora do ar)

DRT:  013635 (SP) – Atriz



  

CV - GABRIEL LEVY - Direção Musical


O acordeonista, arranjador e compositor Gabriel Levy tem uma formação
eclética voltada tanto para a música erudita como para música popular.  Dedicou-se a musica para teatro, dança e performances cênicas.

Lecionou em festivais de música, simpósios de educação musical e cursos de formação de professores em Londrina, Curitiba, São Paulo, Minas Gerais, Alemanha (Landesmusikakademie de Berlim), dentre outros, e foi professor da ULM- Universidade Livre de Música de São Paulo. Publicou livros de Educação Musical e atualmente é consultor junto ao Projeto Guri.

Recentemente tem se dedicado à musica instrumental como compositor e acordeonista, atuando em diversas tournês internacionais, incluindo Portugal, França, Espanha, Inglaterra, Suíça, Alemanha, El Salvador, Venezuela, Bolívia, Japão, China, etc.

Atuou tambem ao lado de artistas dos mais diferentes estilos como: Carlos Careqa,  Miriam Maria, Palavra Cantada, Rogerio Botter Maio, Chico Saraiva, Marcelo Preto, Toninho Carrasqueira,  Fortuna, Ceumar, Antonio Nóbrega,  Ballet da Cidade de São Paulo, Zé Geraldo , Tião Carvalho e grupo Cupuaçu Thelma Chan, Pena Branca e Xavantinho,  João Ba, André Abujamra e banda Karnak, Vanessa da Mata, Claudio Nucci, Fafá de Belem, Ivaldo Bertazzo, Quinteto Violado, Braz da Viola, Roberto Corrêa, Jacques Morelenbaum, contadoras de história como Regina Machado e Marcia Moirah, os grupos de música japonesa Bonsai
Romã, Gaijin no Me, Trio Kagurazaka e Seiha, os alaudistas Samir Joubran (Palestina) e Sami Bordokan (Líbano/SP), o guitarrista português Antonio Chainho, o cantor e instrumentista curdo Sivan Perwer, entre outros. 
Tem sido convidado para integar orquestras que acompanham artistas internacionais em tour pelo Brasil como Os Tres Tenores, e Ute Lemper, a grande intérprete das músicas de Kurt Weill, dentre outros.

A partir de uma preocupação com a integração do público em geral com a produção musical vem atuando como educador musical, arranjador e regente coral, produtor e diretor musical de dezenas de CDs, e atuou em diversos grupos que trabalham com música dançante brasileira
como BANDA MAFUÁ, que integrou o forró ao circuito dançante da noite paulistana, tendo como convidados vários músicos da cena brasileira como Dominguinhos, Miltinho Edilberto, Tom Zé entre outros.

Foi um dos acordeonistas retratados no filme O Milagre de Santa Luzia, documentário sobre o acordeom no Brasil.

Atualmente é integrante da ORQUESTRA MUNDANA (coordenada por Carlinhos Antunes) - junto a qual tem atuado com Fanta Konate (Guiné), Bayfall (Senegal), Kancham (India), Oleg Fateev (Moldávia), indios Wauja, Badi Assad,etc.- da ORQUESTRA COMETA GAFI (gafieira) - junto a qual tem atuado com Jair Rodrigues, Paulo Moura, Zé Renato, Pedro Luis e a Parede, etc -  da tribo MUTRIB (música dos Balkans e Mediterrâneo oriental) - que tem atuado junto a músicos como Goran Alachki (Macedônia), Boyko Sabev (Bulgária), Vesna Bankovic (Sérvia), dentre outros - e do grupo MAWACA de músicas étnicas, que pesquisa tradições musicais do mundo junto ao qual atuou ao lado de Tamie Kitahara (Japão/Brasil), Equidad Bares e Marc Egea (Espanha), Né Ladeiras (Portugal), Pekka Lehti (Finlandia), Uxia e Carlos Nuñes (Galicia), Marlui Miranda, Carlos Malta,  etc.

Atualmente tem se apresentado com seu próprio trio ou quarteto tocando repertório tradicional ou composições inspiradas em músicas do mundo.

CV - LUIZ VALCAZARAS - Direção Cênica

Luiz Valcazaras, em 1980 (Itapeva/ SP), iniciou sua pesquisa nas diversas linhas de teatro chegando em 1982 em São Paulo. Em 1990 trabalhou na USP, como diretor de teatro universitário/TUSP.

Em 1994 funda o N.I.Te. (Núcleo de Investigação Teatral).

Dirige o espetáculo “Anjo Duro” (2000). A atriz Berta Zemel recebeu o prêmio de melhor atriz pela APCA e foi indicada ao prêmio Shell.  “Abre As Asas Sobre Nós” de Sérgio Roveri Recebeu o Shell de melhor texto/2006.  

Luiz Valcazaras vem ministrando palestras sobre o N.I.Te. em várias cidades do Brasil.

Convidado, coordenou a implantação deste trabalho com o grupo “ BocadeBaco” e dirigiu os espetáculos “Fando e Lis” e “Balada”.  

Em 2007 dirigiu o Grupo “Criando a Liberdade” no espetáculo “Então é assim!” Esses trabalhos foram realizados em Londrina-PR.

PRÊMIOS

Melhor Direção
   “Fando e Lis” – Fest. Campo Mourão / PR
Melhor Espetáculo
 “Os Clongnômades” – Fest.USP/ Pirassununga
Melhor Espetáculo
“Lenda Crioula”  Fest. USP/ São Carlos
Espetáculo Anjo Duro
APCA Melhor Atriz – Berta Zemel
Espetáculo “Abre as Asas Sobre Nós”
Shell de  Melhor texto 2006


DIREÇÃO

2009 – ENCONTRO DAS ÁGUAS de Sergio Roveri
2007 –ASSOVIO  de Luiz Valcazaras
2007 – ESVAZIAMENTO de Bia Gonçalves
2007 –ENTÃO É ASSIM Grupo Criando a Liberdade - Londrina (PR)
2007 –NA NOITE DA PRAÇA de Alberto Guzik
2006 –ABRE AS ASAS SOBRE NÓS de Sérgio Roveri
2005 –DANÇA LENTA NO LOCAL DO CRIME de Willian Hanley
2003 - BALADA Boca-de-Baco Londrina – PR
2001 - FANDO e LIS Boca-de-Baco  Londrina - PR
2000 - ANJO DURO com Berta Zemel
1994 -A TERCEIRA LENDA Ribeirão Preto
1993 -OS CLONGNÔMADES Pirassununga